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        <p><em>Voz importante&nbsp;<span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-variant-caps: inherit; background-color: transparent; letter-spacing: 0px;">na luta pela inclusão na moda, o estilista Luiz Claudio Silva conta como esse tema se relaciona com sua última coleção, Cura, e se prepara para inaugurar loja-ateliê</span></em></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span>O estilista<strong> Luiz Claudio Silva</strong> sempre quis que sua roupa falasse por si mesma, em uma postura bem parecida com a de Martin Margiela, que raramente dava entrevistas quando comandava sua marca hom&ocirc;nima. Foi <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/o-legado-de-virgil-abloh"><strong>Virgil Abloh</strong></a>, entretanto, quem fez o mineiro perceber o lado positivo da press&atilde;o para que ele se mostrasse mais, principalmente nas m&iacute;dias sociais. O combust&iacute;vel, explica, &eacute; a certeza de que contribui para quebrar barreiras a partir de sua pr&oacute;pria trajet&oacute;ria, colaborando com o debate sobre a inclus&atilde;o na moda brasileira. &ldquo;Teve uma menina que me escreveu e aquilo me deixou muito (emocionado) porque ela n&atilde;o se via dentro de um ambiente como esse, sabe? Entendi o quanto &eacute; importante a minha cara aparecer. At&eacute; porque a minha marca n&atilde;o tem meu nome.&rdquo;</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span>&Eacute; por isso que o &uacute;ltimo desfile de sua grife, a <strong>Apartamento 03</strong>, no <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/spfw-n52-confira-os-detalhes-do-ultimo-dia-de-evento"><strong>SPFW</strong></a>, teve sabor especial. Al&eacute;m de marcar seu retorno para o presencial &ndash; o evento foi em formato h&iacute;brido &ndash;, ele conta que, realmente, pela primeira vez conseguiu o casting que sempre quis, quase todo formado por modelos negros. &ldquo;Nem sempre achei que isso fosse poss&iacute;vel. Dessa vez, eu tinha as pessoas mais bonitas por perto&rdquo;, conta, sem esconder o carinho e a gratid&atilde;o de ter reunido nomes como a modelo Rita Carreira, Natasha Soares (uma das fundadoras do Projeto Sankofa), o ator &Iacute;caro Silva, a influenciadora <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/beleza/camilla-de-lucas-geracao-z-cringes-entrevista">Camilla de Lucas</a> e Rosa Santos, sua modelo de prova h&aacute; quatro anos, al&eacute;m do artista paraense Lab&ocirc; Young, que ganhou fama internacional transformando folhagens em roupas e acess&oacute;rios.</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span>Luiz Claudio diz que reunir essas pessoas s&oacute; fortaleceu o tema da cole&ccedil;&atilde;o, Cura, terceira parte da trilogia que come&ccedil;ou com as cole&ccedil;&otilde;es Um Ensaio sobre a Cegueira e Janela &ndash; ambas apresentadas em formato de v&iacute;deo. Juntas, s&atilde;o um livro aberto de como o estilista tem sentido e vivido a pandemia, desde o desafio de manter a f&aacute;brica a pleno vapor e o cuidado com os funcion&aacute;rios at&eacute; a decis&atilde;o de encarar o show presencial. &ldquo;Gosto de mostrar a roupa de perto porque a minha hist&oacute;ria &eacute; com o tecido&rdquo;, explica, acrescentando: &ldquo;A ideia era ter apenas 50 pessoas na sala de desfile e mesmo assim eu estava feliz. Tamb&eacute;m sabia que elas estavam vacinadas. Foi emocionante.&rdquo;</span></p>
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        <p style="text-align: justify;"><strong>L ́OFFICIEL:&nbsp;</strong><span>Dentro do tema Cura h&aacute; um aspecto muito importante: as pessoas. Foi a ideia por tr&aacute;s das bonequinhas que aparecem em v&aacute;rias pe&ccedil;as?<br /></span><span></span><span></span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span><strong>LUIZ CLAUDIO SILVA:&nbsp;</strong></span><span>H&aacute; muito tempo eu queria ter essas bonequinhas aqui em casa. H&aacute; uma ideia romantizada de que entre as pessoas escravizadas que vinham da &Aacute;frica, as m&atilde;es rasgavam a barra da pr&oacute;pria roupa e faziam essas bonequinhas. Elas s&atilde;o feitas de n&oacute;, sem agulha ou linha, e eram dadas para as crian&ccedil;as. Mas tem, tamb&eacute;m, significado de resist&ecirc;ncia. Pesquisando, encontrei a artes&atilde; Caroline Falero, que fez 50 bonecas para eu colocar em um quadro. Quando chegaram, liguei para agradecer e Caroline contou que as bonecas foram um ato de cura para ela, tanto de trabalho quanto de se entender como mulher negra neste pa&iacute;s. Foi ent&atilde;o que surgiu a ideia de fazer um monte de bonecas para o desfile com os tecidos da cole&ccedil;&atilde;o.</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Cura tamb&eacute;m aparece na refer&ecirc;ncia a Omulu, considerado o m&eacute;dico entre os orix&aacute;s e que usa um capuz de palha. Foi a primeira vez que voc&ecirc; trabalhou com esse material?<br /></span><span></span><span></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Paulo Raic (videomaker) me lembrou de uma coisa: estava saindo da Federal (Universidade Federal de Minas Gerais) e o tema do (pr&ecirc;mio) Smirnoff de 2000 era natureza virtual e a roupa que eu fiz (e venceu a premia&ccedil;&atilde;o) era toda em junco. Tem algum significado a&iacute; porque o meu orix&aacute; &eacute; Omulu. A palha tamb&eacute;m chegou por acaso. Um amigo apresentou uma amiga (a designer Bruna Prebay) que faz bolsas com cara de praia. Pedi para ver e quando elas chegaram pedi o material para fazer um teste. Recebi uma esteira. Cortei e pedi mais 50. E a&iacute; a gente come&ccedil;ou a brincar com isso dentro das minhas modelagens.</span></p>

<p><span>Foi desafiador modelar a palha?<br /></span><span></span><span></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>J&aacute; trabalhei com muita coisa complicada (risos). S&oacute; n&atilde;o sabia se dava para costurar e se seria confort&aacute;vel, mas foi gostoso de fazer. N&atilde;o vai para a loja porque &eacute; muito caro e n&atilde;o tem a vida &uacute;til que o cliente final pede. &Eacute; uma coisa muito mais de imagem e que depois pode ser reproduzida em franjas de tecido.</span></p>

<p><span>Cura tamb&eacute;m se conecta com o casting?</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Se voc&ecirc; pegar o meu cronograma de desfiles, que &eacute; grande (a marca tem 15 anos), ver&aacute; que o casting no in&iacute;cio era outro. Quando a gente est&aacute; falando de pessoas que s&atilde;o pretas, racializadas, &eacute; importante ver algu&eacute;m que se parece com voc&ecirc; em lugares de destaque. Mas eu nunca achei que fosse conseguir, por exemplo, ter o &Iacute;caro ou a Rita Carreira em um desfile e foram coisas que aconteceram de um jeito t&atilde;o org&acirc;nico... E houve algumas pessoas que vieram de presente para assistir, que eu n&atilde;o sabia, como a Liniker. Fiquei emocionado quando ela entrou no backstage e me falou que se viu em v&aacute;rias mulheres na passarela. A gente se fala por mensagens e sempre a&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; background-color: transparent; letter-spacing: 0px;">visito, mas foi para mim um ponto de chegada. Descobri v&aacute;rias possibilidades; &agrave;s vezes a gente n&atilde;o acredita que possa ter voz. E quando voc&ecirc; usa essa pot&ecirc;ncia descobre que h&aacute; pessoas que est&atilde;o vendo seu trabalho e est&atilde;o distantes porque &eacute; isso mesmo. Mas elas est&atilde;o ali para te apoiar.</span></p>

Modelos no ateliê de Luiz Claudio

<p><span>N&atilde;o deixa de ser uma luta pessoal...<br /></span><span></span><span></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>&Eacute; uma luta pessoal que conta a hist&oacute;ria de v&aacute;rias pessoas de v&aacute;rios lugares. Cada uma tem sua hist&oacute;ria, mas, normalmente, s&atilde;o todas muito parecidas.</span></p>

<p><span>Como voc&ecirc; enxerga os temas racismo e inclus&atilde;o na moda?</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Parto do princ&iacute;pio de que as coisas aconteceram porque as pessoas que s&atilde;o racializadas lutaram por isso. Por mais que se diga que todos somos todos iguais, a gente sabe que n&atilde;o &eacute; assim. A gente sabe que n&atilde;o chega (oportunidade) para todo mundo. S&atilde;o v&aacute;rios m&eacute;dicos, arquitetos, dentistas, artistas pl&aacute;sticos, cantores, atores que s&atilde;o invisibilizados porque n&atilde;o tiveram ou t&ecirc;m uma chance e acabam escolhendo outro caminho. Eu estou falando isso pela minha pr&oacute;pria hist&oacute;ria. Eu morei num lugar onde n&atilde;o havia escolha, mas eu ia para a escola e todo o dinheiro que a minha fam&iacute;lia conseguia era para isso e para comer. Havia coisas mais f&aacute;ceis e me foram oferecidas v&aacute;rias vezes. Quando eu falei para minha m&atilde;e que queria trabalhar com moda, n&atilde;o parecia poss&iacute;vel para ela que eu me tornasse estilista. Parecia poss&iacute;vel ser costureiro. &Eacute; por isso que ela me ensinou. Mas ser um estilista, estudar moda, parecia um sonho.</span></p>

A modelo de prova, Rosa Santos, na passarela da Apartamento 03, no SPFW. 

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      <p><span>Ela &eacute; muito presente na sua vida?<br /></span><span></span><span></span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>Sim, ela e pai. N&atilde;o falo muito porque ela est&aacute; com 79 anos. Uma vez eu a levei em um desfile no Minas Trend, ela ficou extremamente emocionada e eu fiquei com medo de ela passar mal. Quando descobriram que era minha m&atilde;e, a colocaram na primeira fila ao lado de pessoas que ela imaginava serem importantes e todo mundo queria tirar uma foto. Foi muito pesado.</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Sua m&atilde;e sabe que voc&ecirc; conta que ela te pedia para refazer as casas dos bot&otilde;es at&eacute; estarem perfeitas?<br /></span><span></span><span></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Ela l&ecirc; tudo que publicam. Por causa da pandemia, n&atilde;o tem sa&iacute;do de casa, mas antes ia sempre na f&aacute;brica e ficava olhando as roupas. Ela n&atilde;o me cobra, mas cobra das pessoas que trabalham comigo. O que ela refor&ccedil;a muito &eacute; se est&aacute; bem-feitinho, sabe? Se o acabamento est&aacute; certo, porque na &eacute;poca que ela costurava n&atilde;o tinha m&aacute;quina overloque, tudo era feito &agrave; m&atilde;o. Ela fazia a roupa, virava do avesso e fazia o acabamento manualmente.</span></p>

<p><span>Ela deve ter muito orgulho de voc&ecirc;...<br /></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Eu penso que sim (risos). Meu pai nunca concordou; &eacute; claro, isso &eacute; uma hist&oacute;ria cl&aacute;ssica. Mas existiu um momento em que eu fiquei muito conhecido em Belo Horizonte. Meu pai estava bebendo com os amigos e algu&eacute;m chegou com o jornal e havia uma entrevista comigo. Ele ficou todo orgulhoso de os amigos saberem que o filho dele era conhecido no jornal.</span></p>

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      <p style="text-align: justify;"><span>Nesse &uacute;ltimo desfile teve a Camilla de Lucas e a Rosa Santos, que nunca haviam desfilado. Tamb&eacute;m foi com o intuito de abrir espa&ccedil;o?</span></p>
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      <p style="text-align: justify;"><span>Foi. A Rosa prova (as roupas) para mim h&aacute; quase quatro anos. Quando est&aacute;vamos montando o casting e pensando nas pessoas que queria trazer, falei com Dani (Ueda, stylist do desfile e que fez o casting junto com Bill Macintyre): &ldquo;E se eu levasse a Rosa?&rdquo; Fiz o convite, disse que era a oportunidade de ver de pertinho o que &eacute; a passarela do SPFW porque ela faz parte da nossa hist&oacute;ria. E tem v&aacute;rios significados nisso. A Rosa tamb&eacute;m atravessou a pandemia com a gente. Ela foi a modelo de prova, inclusive, de todas as roupas dos v&iacute;deos. Ent&atilde;o, nada mais justo do que estar naquele momento em que a Apartamento 03 voltava para a passarela. A Camilla veio porque tenho contato com v&aacute;rios stylists. Um deles &eacute; o Erick Maia, que me contou que o sonho da Camilla era fazer SPFW e a gente come&ccedil;ou a conversar. Contei para ela a hist&oacute;ria da cole&ccedil;&atilde;o porque eu acho que tinha que ter significado e n&atilde;o somente porque ela &eacute; ex-BBB. Ela abra&ccedil;ou a ideia.</span></p>
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<p><span>Inclus&atilde;o &eacute; a sua bandeira?</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>N&atilde;o tem como n&atilde;o ser. N&atilde;o tem como eu acordar pela manh&atilde; sem pensar nas pessoas que se parecem comigo. E tem um ponto: fa&ccedil;o parte de outra realidade, n&atilde;o da realidade de Paris ou Mil&atilde;o. No Brasil &eacute; outra coisa. Eu sempre acho que os estilistas aqui s&atilde;o muito mais ao estilo &ldquo;tirar leite de pedra&rdquo; do que l&aacute; fora. Eu demorei tamb&eacute;m para entender que n&oacute;s temos uma riqueza que passou muito tempo despercebida pela moda. Quando aparecia na passarela alguma coisa falando do pa&iacute;s era sempre muito caricato. Um olhar estrangeiro para uma coisa que &eacute; da gente mesmo, de pessoas que n&atilde;o se viam. Acho que, trazendo as pessoas, outros olhares, outras experimenta&ccedil;&otilde;es de coisas que s&atilde;o da nossa terra &eacute; sempre muito mais prazeroso.</span></p>

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      <p><span>Qual &eacute; a sua maneira de falar sobre isso?<br /></span><span></span><span></span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>Eu sempre fui pela delicadeza, que tem muito a ver com o que disse sobre minha entrada no SPFW, de ter sido silenciado por tanto tempo. N&atilde;o sei se &eacute; o certo. Mas s&atilde;o as coisas em que eu acredito, que eu defendo.</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>S&atilde;o mensagens que aparecem sutilmente nas cole&ccedil;&otilde;es... Voc&ecirc; faz essa leitura quando as roupas est&atilde;o prontas?<br /></span><span></span><span></span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Eu s&oacute; consigo fazer essa leitura depois que eu saio do desfile. Eu nunca tenho certeza se est&aacute; bom. Eu nem consigo ver o desfile logo depois que aconteceu, inclusive. Eu me sinto meio nervoso pensando que podia ter feito de outro jeito. Talvez porque eu seja virginiano, mas eu tenho essa preocupa&ccedil;&atilde;o, um cuidado com cada pessoa que estava ali. Minha hist&oacute;ria n&atilde;o pode ser contada apenas por mim. Tenho essa preocupa&ccedil;&atilde;o de saber se est&aacute; tudo direito, se as pessoas est&atilde;o felizes com o que est&atilde;o fazendo, se a roupa est&aacute; confort&aacute;vel... porque tem que ser uma felicidade para todos.</span></p>

<p><span>E como anda o projeto da loja-ateli&ecirc; em Belo Horizonte?</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>A loja est&aacute; quase saindo do papel. &Eacute; um sonho de muito tempo. E minha inten&ccedil;&atilde;o &eacute; ter masculino e uma roupa com modelagem especial para vestir corpos maiores com conforto e beleza. Quero fazer isso bem-feito, ent&atilde;o vai me tomar um pouco mais de tempo.</span></p>

Estilista Luiz Claudio Silva fala sobre talento e resistência em última coleção

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